Deparei-me
hoje com uma das cenas mais chocantes e até certo ponto bizarras de minha vida.
Moro a poucas
quadras da estação de ônibus e metrô Vilarinho, aqui em Belo Horizonte e
utilizo este como meio para chegar à universidade onde estudo. Com uma rápida
caminhada chego sempre à estação por volta das 18h e ainda tenho o privilégio
de subir uma passarela tranquila e vazia, longe das multidões que desembarcam
dos ônibus nos horários de pico. Por obra do destino, resolvi excepcionalmente
hoje chegar à estação usando um destes ônibus.
Acontece que,
não obstante o enorme contingente que circula por esta estação (ou quem sabe
exatamente por isto), está em fase final a construção de um enorme shopping center por cima de suas
instalações, o que acarretou hoje, no fechamento de uma das passarelas de
acesso à plataforma de embarque.
Ao descer do ônibus
e seguir em direção às escadas da passarela percebo que um aglomerado de
pessoas estava se formando. Confesso que me senti chateado por perceber que
chegaria atrasado à palestra de um seminário do meu curso, entretanto não fazia
ideia de que o pior ainda estava por vir.
Caminhei até
metade da escada, onde começava o congestionamento. Havia duas fileiras
caminhando no mesmo sentido que o meu ao passo que uma terceira fileira vinha à
minha esquerda formada pelas pessoas que desembarcaram do metrô e seguiam no sentido
contrário. Uma caminhada vagarosa indo de encontro ao meu destino, entretanto
eficaz.
Depois de
cerca de 5min de caminhada assisto à chegada de um dos metrôs trazendo consigo
centenas de passageiros. Foi aí então, que o caos se estabeleceu. Toda esta
multidão sedenta em chegar aos ônibus que as levam para seus bairros ignorou a
superlotação da passarela e decidiu, por senso comum, tomar todas as faixas de circulação
para si. A princípio, pensar apenas em si mesmo parece ser a forma mais rápida
de se chegar ao seu ideal, entretanto, os fatos mostraram que o desdém do
coletivo pode custar caro.
Os
recém-chegados do metrô interceptaram a saída dos que iam de encontro ao
embarque e foi neste momento, em que eu estava no ponto mais alto da passarela,
que todas as filas praticamente se desfizeram e estacionaram.
“Mantenha-se
calmo, Jean, em breve você chegará em segurança à plataforma de embarque” era o
que dizia a mim mesmo o tempo inteiro. Doce ilusão. Fiquei cerca de 30min
parado no mesmo lugar sem como prosseguir ou voltar; meu agasalho de tarde
relativamente fria de inverno se tornou um dos meus piores inimigos e pouco a
pouco fui sendo prensado à grade que batia no meu peito e que me separava de um
abismo até o chão da estação de ônibus. Por instantes pensei que aquele fosse o
meu fim; se não saísse dali acabaria morrendo ao ser jogado da grade da passarela
ou asfixiado por ela. Quem sabe até mesmo com uma possível ruina da passarela
de concreto que não parava de vibrar com o peso estacionado sobre si.
Em meio àquele
pandemônio ouvia pessoas gritando. Entre elas me chamaram atenção uma mulher
que chorava audivelmente por sofrer de claustrofobia, uma idosa que chorava ao
ser sufocada, mas por sorte protegida ao máximo pelo homem que a acompanhava e
as crianças que aos prantos, eram erguidas por seus responsáveis numa tentativa
de salvá-las do sufocamento.
De raiva e
aflição várias pessoas começaram a quebrar partes das grades que bloqueavam o
acesso a uma escada interditada pela obra e após o êxito da ação saltaram como
se fossem exímios praticantes de le
parkour; uma barbárie.
Aos poucos,
graças aos deuses, consegui sair daquela tormenta completamente estarrecido pela
situação e impedido de chegar ao meu destino devido a uma medida de segurança
da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de paralisar os trens para não haver
mais embarque ou desembarque. Foi aí que voltei para a minha casa, pela calma e
vazia passarela que de praxe caminho, pela qual deveria ter vindo.
O que mais me
impressionou disso tudo foi o despreparo do brasileiro em lidar com uma
situação como essas. Se todos consentissem em seguir em suas devidas fileiras,
mesmo que lentamente, todos chegariam ao seu destino. Oxalá nossa nação não se
depare com catástrofes que demandem um trabalho em equipe para o bem comum,
pois na atual situação de educação para a evacuação do brasileiro, todos
pereceriam.
Ironicamente, depreciando nossa agonia, um grupo de operários da
construção do shopping assistiam,
filmavam e cochichavam entre si aos gracejos, aumentando ainda mais meu
desapreço pela cultura desenvolvida pela sociedade em que vivemos.
É realmente lastimável!!!! Enquanto o Governo não investir nas bases educacionais, esse tipo de epsódio absurdo continuará acontecendo, e não se surpreenda, pois eles acontecem com muita frequência!!!
ResponderExcluir"despreparo do brasileiro em lidar com uma situação como essas". Querido, brasileiro é despreparado para tudo. Sinto profunda vergonha do nosso país, que poderia ser infinitamente melhor.
ResponderExcluirEu já tenho uma visão otimista. Temos melhorado muito. Sinto orgulho de muito que o Brasil é. Mas, entretanto, contudo, porém.. rs.. poderia me orgulhar muito mais, né?
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