O início de 2013 está sendo marcado no Brasil (seja por pautas em toda a mídia, pelas redes sociais ou pela boca do povo) pela discussão sobre a homofobia e a intolerância religiosa. É perceptível que pessoas contra e a favor do casamento igualitário têm se posicionado com mais vigor ao longo do último mês e conceitos como "Estado laico", "Liberdade de expressão" e "fundamentalismo religioso" têm sido discutidos até por quem não era familiarizado com esses assuntos.
Esses temas não são novos. Inclusive são duas das principais discussões no mundo ocidental na atualidade, entretanto, no Brasil, as atenções se reforçaram em cima desses temas após uma entrevista da apresentadora Marília Gabriela com o Pastor Silas Malafaia da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no dia 03 de Fevereiro, pela rede de televisão SBT. O programa gerou muita repercussão, ficando por muito tempo nos TTs mundiais. Foi discutido sobre os direitos LGBT e o posicionamento da igreja em relação a essa questão. Malafaia, que notavelmente não domina a retórica, gritava e fazia um discurso agressivo para defender seu posicionamento homofóbico. Marília Gabriela, por outro lado, tentava contornar a situação, mas ali ela era uma entrevistadora e não uma debatedora, portanto não expressou tão claramente seu posicionamento. O fato é que, trazer uma discussão dessas à tv aberta gerou um reboliço enorme e até pessoas não ligadas à igreja ou à militância LGBT, mostraram seu posicionamento político em relação aos direitos igualitários.
Em sua entrevista, o Pastor Malafaia, também formado em Psicologia, tentou justificar sua homofobia desqualificando LGBTs com argumentos científicos maus interpretados ou sem nenhuma fundamentação. Esse talvez tenha sido um de seus maiores erros: tentar falar do que não domina. Todas as falas de Malafaia foram desmentidas posteriormente pela comunidade científica, como no vídeo-resposta do geneticista Eli Vieira e também pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) em uma carta de posicionamento contrário às falas do pastor psicólogo.
Apesar do perigo que Malafaia pode representar no campo político-ideológico, uma ameaça ainda maior, o pastor da Igreja Assembleia de Deus e também deputado federal pelo PSC, Marco Feliciano, assumiu sob muitas críticas e protestos de vários segmentos da sociedade no mês de Março, a liderança da CDHM (Comissão de Direitos Humanos e Minorias) da Câmara dos Deputados do Brasil. A nomeação de Feliciano causou a revolta de militantes dos movimentos LGBT, feministas e da negritude, além de outros, devido às declarações homofóbicas e racistas que já havia proferido em seu Twitter. O fato de ser um pastor em nada causa inquietação entre os manifestantes e contrários à sua gestão, o grande impasse para sua permanência no Conselho é sua postura conservadora em relação às minorias.
(Foto de Alexandre Mazus- P.S. relevem a coxinhisse da época no meu nariz de palhaço) |
Os protestos contra Feliciano já começaram enquanto se cogitava a sua liderança, mas ganharam fervor no primeiro sábado (09) após sua nomeação, quando manifestantes de diversas capitais e cidades médias do Brasil além de Buenos Aires, na Argentina e Londres, no Reino Unido, saíram às ruas bradando: "Fora Feliciano!". Eu participei do protesto do dia 09 e foi a primeira vez que fui às ruas contra a homofobia. Já havia ido à Parada Gay, mas creio que ela tem uma conotação um pouco diferente, apesar de muito válida. Pelo segundo sábado (16) os protestos continuaram em todo o Brasil, mas não pude comparecer devido a uma cirurgia de extração de sisos que eu fiz.
("Fora Feliciano" em BH. Foto de Alexandre Mazus) |
O que mais me chama a atenção em todos esses acontecimentos é como a discussão sobre homofobia, casamento igualitário e tolerância religiosa estão sendo levantadas. Eu nunca havia visto tanta gente nas redes sociais se posicionando em relação a esses assuntos, contra ou a favor. Diversas celebridades e políticos deram posicionamento de repúdio à omissão do Governo Dilma a essa questão. A apresentadora Regina Casé protagonizou hoje (17) no Programa Esquenta um encontro entre representantes de diversas religiões brasileiras para discutirem Tolerância Religiosa. Outro dia tomando um café no California Coffee, presenciei quatro pastores falando sobre como a imagem dos evangélicos está sendo exposta de forma negativa pelos dois pastores citados. Enfim... o assunto é discutido como nunca havia sido antes no país Isso me faz pensar: será que estamos vivendo um momento de inflexão nos direitos humanos no Brasil? Será que a mídia chama pastores para serem entrevistados porque sabe que o posicionamento reacionário deles causa inquietação entre a população? Será que o PSC escolheu um de seus representantes mais conservadores para presidir a CDHM que lhes era de direito porque temem um eminente avanço nos direitos igualitários para LGBTs e negros? O que quero dizer é que uma mudança de paradigma raramente acontece à francesa. Acontece debaixo de muita luta e muito esforço daqueles que acreditam numa mudança.
De qualquer forma, tenhamos dado uma curva na nossa caminhada ou não, tenhamos causado uma ruptura num sistema ou não, não iremos parar ou cessar nossos esforços. Esse ano ainda trará muitas novidades para nós (espero que boas) e quando passarmos por esse turbilhão poderemos fazer uma análise mais reflexiva e satisfatória sobre o que estamos vivenciando agora.
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