terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Retrospectiva Jean 2013

Bem, decidi escrever esse breve [pelo menos tentarei ser breve] post pra relembrar as coisas que me aconteceram no ano de 2013. Já adianto que esse ano foi extremamente intenso e eu o avalio como um bom ano em minha vida. Mas claro, houveram momentos não tão bons assim.

Acho que posso começar falando sobre minhas duas visitas, em Janeiro em Agosto, ao Rio de Janeiro. Havia muito tempo que eu não visitava o litoral e o fiz nesse ano sob uma nova perspectiva de turismo, junto com meus amigos. Exploramos o máximo possível do que é viver no Rio de Janeiro, as experiências mais sutis e extravagantes e acredito que muito em mim foi mudado nessas viagens.

Outra aspecto positivo nesse ano foi meu avanço na língua inglesa e a sensação de autonomia para partir para outro idioma. Em Março eu tirei meu exame TOEFL. Não foi excelente, mas estou satisfeito com os resultados. Também tive a maravilhosa oportunidade de me comunicar por uma noite em inglês com um grupo de chineses, na segunda visita ao Rio de Janeiro. Isso tudo porém, me faz lembrar de uma situação que me deixou bastante triste nesse ano: eu não conseguir participar do programa TOP CHINA SANTANDER 2014. Tudo porque a universidade não aprovou a participação do meu curso nessa edição. Mas tudo bem, nem tudo sai como a gente espera.

Esse ano me surpreendeu [e a quem não?] pela agitação política. Vou nem entrar em detalhes sobre as Jornadas de Junho e Julho porque é pau pra muito barco, mas foi um ano que cresci muito politicamente. Aprendi muitas coisa com o feminismo, luta de classes, movimento negro e indígena, sobre as questões militares e sobre as pautas esquerdistas. Foi um ano que mudou profundamente minha leitura política sobre os fatos.

No campo acadêmico foi a ano do meu TCC. Eu tive a oportunidade de me aprofundar nas questões da Geografia Urbana e nas abordagens marxista e humanística. Também foi o ano da minha formatura, na qual fui orador da turma [o vídeo tá aqui] e ganhei um lindo anel dos meus avós que guardarei para sempre com muito carinho.

No campo profissional recebi a maravilhosa oportunidade de me juntar, por pelo menos dois meses [espero que mais], ao projeto da Regulação Urbana de Belo Horizonte, na empresa PRODABEL, no qual entrei como estagiário, agora, como funcionário.

Me envolvi em alguns casos no início do ano, mas estou no meu maior período de abstinência. Desde Março não fico com ninguém. Isso é fruto de um momento que me fechei mais e me retive em casa. Pretendo mudar isso em 2014.

Na aparência, engordei bastante em relação a 2012. Meus cachos ganharam mais vida, extrai meus quatro sisos, tirei o aparelho fixo e enfim, coloquei meus primeiros piercings.

Conquistamos algumas coisas aqui em casa. Minha mãe comprou um carro e estamos em uma situação econômica estável.

No campo religioso, visitei um terreiro de umbanda pela primeira vez e gostaria de voltar. Estou tentando encontrar um próximo a minha casa.

Graças aos deuses não perdi nenhuma pessoa próxima nesse ano, contudo, vários amigos perderam parentes nesse ano. Fui a muitos velórios. Essa pra mim, foi uma das situações mais tristes desse ano. Espero que 2014 guarde boas vivências para mim e para todos que quero bem.

domingo, 25 de agosto de 2013

De volta ao Rio de Janeiro

Fico feliz por voltar a fazer um post sobre o Rio de Janeiro. Essa cidade realmente conquistou meu coração e não perderei uma única oportunidade de revisitá-la sempre que possível. E é exatamente por ter visitado o Rio mais uma vez que volto a escrever sobre minhas impressões sobre a cidade e sobre os acontecimentos dessa nova viagem.

Eu conheci o Rio no início desse ano (falei sobre essa viagem nesse post) e sabia que logo eu voltaria a visitar essa cidade, só não imaginava que seria tão em breve, já no mês de Agosto. Mas não faz mal. Na verdade fiquei muito contente por ter a oportunidade de terminar o roteiro de lugares a conhecer que não consegui cumprir na primeira vez. (Apesar de ter faltado ainda a Escadaria Selarón e a Cafeteria Colombo).

Foi uma curta estadia. 3 noites. Fui com a Marcela e um primo dela, o João. Pegamos um voo em Confins pela manhã do dia 16 com destino ao Aeroporto do Galeão e voltamos na noite do dia 19 pelos mesmos aeroportos. Aí eu já senti uma grande diferença em relação à primeira viagem quando cheguei ao Rio pelo aeroporto Santos Dumont. O Galeão fica na Ilha do Governador, mais ao norte da cidade. Sendo assim, a vista na chegada é da periferia da cidade, do porto e do mar em uma parte não-turística. É bastante diferente da chegada pelo Santos Dumont que dá pra ver a estátua do Cristo, o Pão de Açúcar e as famosas praias da zona sul. Mas eu gostei dessa experiência de conhecer o Rio sob uma outra perspectiva. Só não gostei muito do traslado até Copacabana porque devido ao trânsito e à distância, gastamos quase 2 horas.

Ficamos hospedados novamente em Copacabana só que dessa vez em um hostel mais próximo ao Posto 3, na rua Siqueira Campos. O hostel é o Hercus e eu indico muito. Ao contrário do Pura Vida Hostel, onde nos hospedamos da última vez, o atendimento é extremamente cordial. Inclusive serei obrigado a me redimir em relação ao meu último post a repeito dos atendimentos dos cariocas. Fui muitíssimo bem recebido e atendido em todos os ambientes que frequentei nessa viagem. Foi realmente muito diferente da primeira vez que fui ao Rio, como comentei no último post. Portanto digo que me senti muito confortável pela receptividade carioca desta vez.

Em relação aos lugares que visitamos, novamente ficamos bastantes restritos à zona sul e central. Visitamos o Cristo novamente e os mesmos restaurantes que amamos da primeira vez: Chon Kou, Rota 66 e Monchique Churrascaria. As novidades ficaram por conta do Teleférico do Pão-de-Açúcar, o Parque Lage e o Rio Scenarium. Vou falar de cada experiência separadamente.

Na sexta-feira, quando chegamos, fomos nos encontrar com um grupo de chineses que são amigos da Marcela e estavam no Rio devido ao programa Top Brasil/Top China do Banco Santander. Após fazermos check-in no hostel e arrumarmos nossas coisas fomos de encontro a eles no hotel Windsor, no Leme, onde estavam hospedados. Essa experiência na viagem com os chineses foi muito boa pois, além de ser sempre muito legal conversar com estrangeiros, pude praticar meu inglês e aprender algumas coisinhas da cultura chinesa. Falo no diminutivo pois não tivemos mais que um dia para nos encontrarmos com eles.

Da esquerda para a direita: Elson, eu,
Fred e João, no restaurante Chon Kou.
Ao chegarmos no hotel, ficamos esperando pela Tracy no hall de entrada. Ela é muito amiga da Marcela e logo nos apresentou outros chineses que estavam com ela. Me lembro de nome apenas do Fred, do Elson e do Calton. Mas houveram outros. Uma coisa interessante é que eles se apresentam, como é possível perceber, por nomes ocidentais. Isso porque os nomes chineses, para nós que não somos habituados a eles, não são fáceis de se decorar rapidamente. Então eles escolhem um segundo nome para si na intenção de facilitar a comunicação. Quando chegamos no hotel, eles já estavam de partida para o restaurante chinês Chon Kou (coincidência ser exatamente o restaurante que nós gostamos muito). Sendo assim, aceitamos o convite de nos juntarmos a eles e fomos com um grupo de 40 chineses para lá. A comida no restaurante estava ótima. Alguns pratos eu não comi porque realmente não saberia como lidar com eles por serem muito diferentes. Lá eu conversei principalmente com o Fred e o Elson dos chineses e o João de brasileiro, que foram muito simpáticos e falavam muito e de tudo.

Da esquerda para a direita: João, Fred,
eu, Tracy, (eu esqueci o nome desse
apesar de tê-lo achado super simpático)
e Marcela.
Quando acabamos de jantar, a Tracy nos convidou para irmos com eles para o Rio Scenarium, uma boate que fica na Lapa. Aceitamos o convite e voltamos ao hostel para nos arrumar. Quando chegamos lá pagamos R$35,00 para entrar, mas o ambiente e as músicas da casa estavam excelentes. Nada a reclamar. Dessa vez eram menos chineses, devia ser um grupo de cerca de 20, incluindo os professores. Quando entramos na casa estava tocando forró. Uma professora chinesa, de cerca de 50 anos, pediu pra nós brasileiros ensinarmos as danças típicas daqui. Então eu dancei forró com ela e foi super divertido pois a corporeidade dela não está habituada aos nossos ritmos. Dançamos também samba, pagode e um tanto de outros ritmos da MPB.

A cada música os chineses perguntavam que ritmo era e sobre o que a música falava. Eu achei legal a forma como eles se interessaram pelas nossas coisas. Por certos momentos, eles eram quase celebridades na casa pois todos queriam sambar com eles. A Tracy sambou incrivelmente bem para uma pessoa que nunca veio ao Brasil. Os outros não conseguiram pegar o passo muito bem, mas tenho certeza que se divertiram bastante.

No Morro da Urca.
No sábado fomos ao teleférico do Pão de Açúcar. Pagamos um taxa de cerca de R$25,00 (preço para estudantes). A fila do teleférico é bem grande mas anda bem rápido. Primeiro há uma parada no morro da Urca, onde ficam vários restaurantes e depois uma segunda parada no Pão de Açúcar. Eu achei a vista muito bonita. Porém, ao contrário do que muitos dizem, não a achei mais bonita que a vista do Cristo. Na verdade não consigo eleger uma melhor. Gostei muito de ambas. O teleférico dá um certo medo porque ele balança muito, mas ainda assim é bem legal.



Em frente ao palacete do
Parque Lage.
À noite fomos ao restaurante mexicano Rota 66 em Ipanema. Eu adoro aquele lugar mas como estava sem muito dinheiro não pedi uma das deliciosas quesadillas de lá. Dividi um prato de nachos com frango, tomate, creamcheese e pasta de abacate com a Marcela e o João. Estava muito gostoso mas era enjoativo comer muito.

No domingo fazia muito frio e choveu um pouco. Nos agasalhamos bem e fomos visitar o Parque Lage. O parque é extremamente lindo, a paisagem do palacete com o Corcovado é inigualável. No dia em que estivemos lá havia uma exposição de uns espelhos que ficavam girando e outros no chão. Não faço ideia do que signifique, mas achei legal. Gravei um videozinho do espelho que gira aqui. Logo depois de sairmos do parque fomos ao Cosme Velho pegar o bondinho pro Cristo. Pagamos uma taxa de R$23,00 (preço pra estudante também). Filmei um cadinho da subida pro Cristo no bondinho também aqui e aqui. Filmagem super profissa, soqn. Dessa vez o Cristo não me atacou com jatos de água e vento, como da última vez. (Quem leu meu último post sabe o que aconteceu).

Gostei muito dessa foto
em cima de um espelho
colocado no chão.
Na segunda-feira fizemos o check-out no hostel ainda pela manhã e almoçamos no Monchique. Comida
mega barata como sempre, mas dessa vez não achei tão gostosa quanto das outras vezes que fui. Mas tudo bem.

Pegamos um frescão na orla de Copa indo pro Galeão. Me despedi do Rio com aquela sensação de que a cidade estará ali, acolhedora e ao mesmo tempo imponente pra quando eu quiser voltar. Até a próxima, Rio!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Minhas considerações sobre o livro "O Peregrino e o Convertido: A religião em movimento" de Danièle Hervieu-Léger


           
O livro em sua versão em Português.

                As questões relativas à pertença religiosa em tempos de ausência (ou acentuado enfraquecimento) da ação reguladora da fé pelas instituições religiosas, comumente levam a mais questionamentos e dúvidas do que a direcionamentos e respostas propriamente ditas.
Danièle Hervieu-Léger. Socióloga francesa.
            Diante da necessidade e anseio de se reconhecer e ser reconhecido enquanto indivíduo crente (para os que assim o querem, ressalvando o direito à não-crença) num mundo onde as religiões históricas não são  eficazes em oferecer sentido e respaldo para a fé, Danièle Hervieu-Léger (1947), socióloga francesa, faz um resgate sobre as figuras religiosas da Modernidade em seu livro “O Peregrino e o Convertido: A religião em movimento”, traduzido para a língua portuguesa em 2008. É notável a preocupação da autora em não fazer juízo de valores sobre o desempenho e o papel das instituições religiosas nos tempos modernos, se atentando à análise do dado religioso e suas implicações na Modernidade de forma imparcial.
            É recorrente que as pessoas que não se encontram no cerne (quem sabe até mesmo nas periferias) das práticas de determinada instituição religiosa respaldem suas concepções de mundo e fomentem suas relações comunitárias pela individualidade (nos mais diversos sentidos o possível) e pelo crivo da concepção republicana de laicidade e liberdades individuais.
            Acontece que o conceito de laicidade é, por muitos, desenvolvido com uma série de equívocos. Usa-se muito tal artifício de mediação de conflitos, por exemplo, de forma a reprimir e deslegitimar a importância do dado religioso no âmbito privado e comunitário bem como pretexto para um sorrateiro (às vezes exacerbado) preconceito religioso. Em seu livro, a socióloga resgata a historicidade do movimento laico e suas implicações ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, mostra que seu atual papel não é criar um Estado sem religião, mas sim, um Estado que reconheça a pluralidade religiosa dando indícios de que a Modernidade não deixou de reconhecer a(s) religião(ões) como uma categoria importante para a(s) sociedade(s).
            A obra de Danièle sugere a todo momento, uma Modernidade pautada pelo movimento (no sentido literal da palavra) religioso. As figuras religiosas do peregrino e do convertido fazem alusão a esse movimento e, pela contextualização dessas categorias, a autora consegue aproximar aqueles que se questionam sobre sua real pertença religiosa (ou a simples existência dela) a uma compreensão sobre o fenômeno religioso no qual vivemos atualmente.


            

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Fui submetido à "Cura Gay"

Resolvi escrever este post pois já fazem quase dois meses que o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) assumiu a presidência da CDHM e, embora sua presença na Comissão tenha causado um reboliço na sociedade colocando a discussão sobre a homofobia em diversas pautas (refleti um pouco sobre isso em outra postagem), tal figura continua sendo uma grande ameaça aos direitos já conquistados pelas minorias.

Digo isso pois na próxima reunião da Comissão será discutido um projeto de "cura gay" que pretende derrubar uma decisão do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que há muito impede psicólogos de tentarem converter pacientes não-heterossexuais em pessoas heterossexuais.

Apesar de não acreditar que esse projeto consiga ser aprovado como lei, me incomoda muito saber que exista esse tipo de discussão em um espaço onde deveria se discutir a opressão contra as minorias ao invés de formas de oprimi-las ainda mais. Como uma pessoa que já foi submetida à "cura gay", acredito que minha voz seja legítima.

Como quase todos sabem, fui evangélico durante toda a minha adolescência. Frequentei a vertente Batista desde o final da infância até os meus 17 anos (idade com a qual entrei pra faculdade). Vivi durante esse período uma vida inteiramente norteada pelos dogmas da igreja -não necessariamente cristãos- e desta forma, o fato de ser homossexual sempre me atormentou por achar que seria condenado por Deus em virtude de meus desejos sexuais.

Eu percebo minha "identidade sexual" -não sei se essa expressão está sendo usada corretamente. Se não, alguém me corrija, por favor- em três grandes etapas: a primeira foi até a faixa dos 14 anos de idade, na qual sempre me senti atraído por meninos mas pensava que fosse algo que passaria quando chegasse à idade adulta. A segunda foi entre 14 e 17 anos, na qual minha fixa caiu e busquei intensamente uma "libertação" de minha homossexualidade. A terceira foi a partir dos 17 anos quando, já em contato com os estudos acadêmicos sobre sociedade, papel e status e instituições sociais, aceitei minha sexualidade como algo normal e inerente a mim e então saí do armário (sem retorno).

Foi nessa segunda etapa da minha vida que tive contato com a "cura gay". Queria muito ser heterossexual. Não que o fato de ser gay em si, como muitos evangélicos -é preciso que fique claro que não são todos desta mentalidade- dizem, cause transtorno e tristeza em homossexuais. É a cultura heteronormativa que nos oprime e nos faz pensar que somos inferiores por causa de nossos sentimentos. Quando o processo de aceitação acontece tudo muda, e nossa "identidade sexual" -não tô conseguindo encontrar uma expressão diferente dessa- passa a ser motivo de orgulho e não de vergonha.

Por causa dessa sensação de estar errado e precisar me "libertar" fui em busca de ajuda. Num primeiro momento, tentei por mim mesmo. Li vários relatos de ex-LGBT*s que haviam se convertido ao neopentecostalismo, orei, fiz jejuns, fiz votos de abstinência, subi ao monte (essa é uma prática comum entre evangélicos quando buscam uma causa mais "difícil". Não sei a origem desse hábito, talvez seja porque Jesus subia ao monte para orar), enfim... fiz tudo o que o protocolo manda para alcançar a "cura gay".

Segundo a crença evangélica, quando você entrega sua vida para Jesus, todos os seus vínculos com entidade demoníacas (a essas entidade acresce-se o que chamam de "espírito do homossexualismo") são desfeitos com base na passagem do livro de João, capítulo 8, versículo 32: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Só que uma dúvida sempre paira no ar: se no ato da conversão a pessoa crente é liberta, por que continua a homossexualidade? Para responder essa pergunta usam como base um versículo do livro de Mateus, capítulo 17, versículo 21: "Mas algumas castas só saem com jejum e oração". Pronto! Agora é fácil de resolver! "Se você possui o espírito do homossexualismo, depois de entregar sua vida a Jesus, deve fazer vigílias de oração e jejuar muito, além de ter muita fé. Se você não for liberto é porque você não está fazendo jejuns e orações ou não tem fé o suficiente." (!) Este foi o discurso que ouvi durante toda minha adolescência. A igreja evangélica é mestre em condenar os homossexuais e encontrar diversivos responsáveis pela homossexualidade. O discurso de "odiamos o pecado, amamos o pecador" é repetido constantemente e carrega pouquíssima sinceridade. O "gay shaming" -to pegando emprestado do termo "slut shaming"- nas igrejas é tão forte a ponto de um dia eu ter presenciado um pastor mandando um fiel "falar igual homem" na frente de várias pessoas.

Voltando ao meu caso, era de se esperar que eu internalizasse o discurso que me culpava por ainda ser gay. Orava a Deus pedindo fé para que me "curasse" constantemente. Para mim, a resposta para o meu problema estava em Mateus 17; 21. Se ainda continuo gay, aumento a dose de orações e jejuns. Era apenas um garoto de 15 anos, terminando meu Ensino Fundamental, quando fiz campanhas acordando de madrugada para orar e fazendo jejuns diários de dezessete horas. Sim! Estudava no turno da tarde e ficava sem comer de meia noite às 17h durante o período de alguns meses a ponto de emagrecer muito. Minha mãe e professores sequer sabiam disso (com certeza me impediriam e quereriam uma resposta que justificasse esses jejuns e eu não estava disposto a dar). Pode parecer completa loucura que um adolescente de 15 anos se submeta a isso, mas minha crença de que esse método me tornaria heterossexual me motivava a continuar.

Passou-se o tempo e, por volta dos 16 anos percebi que meus esforços não davam certo e a medida que ia envelhecendo meus desejos sexuais só aumentavam. Nesse momento senti a necessidade de procurar ajuda externa.  A resposta para minha angústia naquele estágio da vida estava em Tiago 5;16 que diz: "confessem os seus pecados uns aos outros para serem curados". Pensei minunciosamente a quem contaria pela primeira vez um segredo que sempre mantive comigo e duas pessoas influentes em minha igreja, que trabalham essencialmente com causas que eles chamam de "libertação interior" foram escolhidas. Um homem e uma mulher. Contei tudo a eles ao passo que ficavam impressionados com minhas declarações uma vez que eu também já era uma pessoa com cargos e conhecida dentro da congregação. Confesso que naquele momento senti um alívio enorme por não mais guardar sozinho esse segredo. Mais do que nunca pensei que a "cura gay" estava próxima. Fizemos orações, traçamos objetivos e pouco depois de completar 17 anos, comecei a namorar uma menina da escola. Meu relacionamento de três meses com ela me fez perceber que todo meu esforço, desde os 14 anos de idade, de nada valeram. Eu fiquei muito angustiado e desesperançoso, sem saber mais que armas usar para lutar. Terminei o namoro em Janeiro de 2010 e comecei a cursar Geografia na PUC Minas no mês seguinte. A universidade teve então um papel decisivo ao me mostrar uma outra possibilidade: a aceitação. Ainda no primeiro período saí do armário e desde então ser homossexual não é motivo de vergonha ou tristeza pra mim. Nunca me senti tão bem comigo mesmo em toda a minha vida.

A "cura gay" é um grande equívoco. Seja ela aplicada (mas nunca com eficácia, aceitem) por psicólogos, seja pela religião. Serei professor em breve e já tenho contato com vários adolescentes nas escolas onde faço estágio supervisionado. Não quero de forma alguma, que as crianças LGBT* com as quais trabalho sofram o que sofri por terem sua identidade sexual e/ou de gênero discriminada por aqueles que, como pessoas heterossexuais e cisgênero, pensam que sabem mais sobre nossas identidades do que nós mesmos.

domingo, 17 de março de 2013

Estamos vivendo um momento de inflexão?


O início de 2013 está sendo marcado no Brasil (seja por pautas em toda a mídia, pelas redes sociais ou pela boca do povo) pela discussão sobre a homofobia e a intolerância religiosa. É perceptível que pessoas contra e a favor do casamento igualitário têm se posicionado com mais vigor ao longo do último mês e conceitos como "Estado laico", "Liberdade de expressão" e "fundamentalismo religioso" têm sido discutidos até por quem não era familiarizado com esses assuntos. 




Esses temas não são novos. Inclusive são duas das principais discussões no mundo ocidental na atualidade, entretanto, no Brasil, as atenções se reforçaram em cima desses temas após uma entrevista da apresentadora Marília Gabriela com o Pastor Silas Malafaia da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no dia 03 de Fevereiro, pela rede de televisão SBT.  O programa gerou muita repercussão, ficando por muito tempo nos TTs mundiais. Foi discutido sobre os direitos LGBT e o posicionamento da igreja em relação a essa questão. Malafaia, que notavelmente não domina a retórica, gritava e fazia um discurso agressivo para defender seu posicionamento homofóbico. Marília Gabriela, por outro lado, tentava contornar a situação, mas ali ela era uma entrevistadora e não uma debatedora, portanto não expressou tão claramente seu posicionamento. O fato é que, trazer uma discussão dessas à tv aberta gerou um reboliço enorme e até pessoas não ligadas à igreja ou à militância LGBT, mostraram seu posicionamento político em relação aos direitos igualitários.


Em sua entrevista, o Pastor Malafaia, também formado em Psicologia, tentou justificar sua homofobia desqualificando LGBTs com argumentos científicos maus interpretados ou sem nenhuma fundamentação. Esse talvez tenha sido um de seus maiores erros: tentar falar do que não domina. Todas as falas de Malafaia foram desmentidas posteriormente pela comunidade científica, como no vídeo-resposta do geneticista Eli Vieira e também pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) em uma carta de posicionamento contrário às falas do pastor psicólogo.

Apesar do perigo que Malafaia pode representar no campo político-ideológico, uma ameaça ainda maior, o pastor da Igreja Assembleia de Deus e também deputado federal pelo PSC, Marco Feliciano, assumiu sob muitas críticas e protestos de vários segmentos da sociedade no mês de Março, a liderança da CDHM (Comissão de Direitos Humanos e Minorias) da Câmara dos Deputados do Brasil. A nomeação de Feliciano causou a revolta de militantes dos movimentos LGBT, feministas e da negritude, além de outros, devido às declarações homofóbicas e racistas que já havia proferido em seu Twitter. O fato de ser um pastor em nada causa inquietação entre os manifestantes e contrários à sua gestão, o grande impasse para sua permanência no Conselho é sua postura conservadora em relação às minorias.

(Foto de Alexandre Mazus-
P.S. relevem a coxinhisse da época
no meu nariz de palhaço)


Os protestos contra Feliciano já começaram enquanto se cogitava a sua liderança, mas ganharam fervor no primeiro sábado (09) após sua nomeação, quando manifestantes de diversas capitais e cidades médias do Brasil além de Buenos Aires, na Argentina e Londres, no Reino Unido, saíram às  ruas bradando: "Fora Feliciano!". Eu participei do protesto do dia 09 e foi a primeira vez que fui às ruas contra a homofobia. Já havia ido à Parada Gay, mas creio que ela tem uma conotação um pouco diferente, apesar de muito válida. Pelo segundo sábado (16) os protestos continuaram em todo o Brasil, mas não pude comparecer devido a uma cirurgia de extração de sisos que eu fiz. 



("Fora Feliciano" em BH.
 Foto de Alexandre Mazus)
O que mais me chama a atenção em todos esses acontecimentos é como a discussão sobre homofobia, casamento igualitário e tolerância religiosa estão sendo levantadas. Eu nunca havia visto tanta gente nas redes sociais se posicionando em relação a esses assuntos, contra ou a favor. Diversas celebridades e políticos deram posicionamento de repúdio à omissão do Governo Dilma a essa questão. A apresentadora Regina Casé protagonizou hoje (17) no Programa Esquenta um encontro entre representantes de diversas religiões brasileiras para discutirem Tolerância Religiosa. Outro dia tomando um café no California Coffee, presenciei quatro pastores falando sobre como a imagem dos evangélicos está sendo exposta de forma negativa pelos dois pastores citados. Enfim... o assunto é discutido como nunca havia sido antes no país  Isso me faz pensar: será que estamos vivendo um momento de inflexão nos direitos humanos no Brasil? Será que a mídia chama pastores para serem entrevistados porque sabe que o posicionamento reacionário deles causa inquietação entre a população? Será que o PSC escolheu um de seus representantes mais conservadores para presidir a CDHM que lhes era de direito porque temem um eminente avanço nos direitos igualitários para LGBTs e negros? O que quero dizer é que uma mudança de paradigma raramente acontece à francesa. Acontece debaixo de muita luta e muito esforço daqueles que acreditam numa mudança. 

De qualquer forma, tenhamos dado uma curva na nossa caminhada ou não, tenhamos causado uma ruptura num sistema ou não, não iremos parar ou cessar nossos esforços. Esse ano ainda trará muitas novidades para nós (espero que boas) e quando passarmos por esse turbilhão poderemos fazer uma análise mais reflexiva e satisfatória sobre o que estamos vivenciando agora.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Meu encontro com Monsieur Periné

(Programação S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L.)
Sábado passado eu vivi um dos momentos mais fantásticos de minha vida em minhas relações fã-ídolo. Tudo aconteceu em um evento pré-carnaval (o S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L.) na Praça da Savassi, em Belo Horizonte. Eu gosto muito do Carnaval e os eventos de rua são sempre bastante atrativos nessa época do ano. Acordei na manhã desse domingo decidido a comparecer. Apesar de ter confirmado presença pelo Facebook, eu não havia olhado a programação do evento nem as bandas que ali tocariam. Subitamente uma vontade de verificar as atrações do evento me ocorreu (acho que foi obra de Iemanjá. Dia 02 de Fevereiro é seu dia e pouco antes eu tinha saudado a Rainha do Mar, Odoiá! Ela me deu um presente e tanto! rs). Esperava ler somente o nome de bandas desconhecidas, mas para minha surpresa, estava lá escrito o nome de uma das minhas bandas preferidas: Monsieur Periné. Fiquei empolgadíssimo!

Eu conheci a banda Monsieur Periné no início do ano passado devido a um evento que acontece todas as sextas-feiras na PUC-MG: a Sexta Erudita. Lá é comum que se apresentem grupos musicais de Belo Horizonte e naquele dia foi a vez do grupo BH Gypsy Jazz (já que não encontrei nenhum site do grupo, vou por um um vídeo deles que está no YouTube). O grupo fez cover de algumas músicas francesas famosas e algumas outras que eu não conhecia (não sei dizer se chegaram a cantar alguma de autoria própria). Entre as músicas que eu não conhecia, uma me agradou muito: Cou Cou. Após a apresentação, eu procurei a música na internet e a encontrei cantada por Catalina García, vocalista do grupo Monsieur Periné. Eu achei a voz dela muito gostosa de se ouvir e pelo nome do grupo, julguei que se tratasse de alguma banda francesa. 

(Grupo Monsieur Periné)
Fiquei bastante interessado por Monsieur Periné e resolvi buscar por outras canções. Para minha surpresa, eram todas músicas latinas cantadas em espanhol. O site da banda também estava escrito nesta língua e então pensei se tratar de uma banda espanhola. Mais tarde, assistindo a algumas entrevistas e lendo sobre a banda descobri que na verdade, Monsieur Periné é de Bogotá, capital da Colômbia. Pra mim, a ideia de uma banda querida em um país vizinho é ainda mais excitante do que em um país do outro lado do oceano Atlântico. Desta forma me tornei um grande admirador da banda.

(RT de @monsieurperine)
Monsieur Periné não é muito conhecida no Brasil. Eu imaginava que por esse motivo demoraria um pouco para que fizessem algum show por aqui. Por sorte estava enganado. Demorou apenas um ano pra que esse show enfim acontecesse. Monsieur Periné confirmou presença na S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L. e nos carnavais de Recife e São Paulo. Não bastava assistir a um show de uma das minhas bandas preferidas em plena praça pública, tinha que ser a primeira performance deles no Brasil! No palco, estavam todos claramente contentes pela nova experiência e Catalina estava graciosa em seus sorrisos e em seu portunhol.

(Eu e a Catalina)
No momento de sua apresentação não deu outra. Estava na primeira fila da plateia e fiquei na grade cantando "La Tienda de Sombreros", "La Ciudad", "Sabor a Mí", "Cou Cou" e "La Muerte". Foi um momento inesquecível. Mas o melhor ainda estava por vir. Tenho uma amiga (Camila) que namora com um dos integrantes da banda Power Muzak, de Belo Horizonte (André). A vocalista da Power Muzak (Carol) foi quem recebeu os integrantes de Monsieur Periné em BH e portanto, ela sabia em qual hotel eles estavam hospedados e já tinha iniciado uma amizade com a Catalina e os meninos. Sabendo que eu sou um fã da banda, a Carol me levou no hotel pra conhecê-los. Lá no hotel eu conversei com a Catalina e com o guitarrista Nicolás Junca. Os demais só deu pra cumprimentar. A Catalina e o Nicolás esbanjam simpatia. São super simples. Apesar de eu ter ficado um pouco apreensivo, eles descontraíram o ambiente. O Nicolás até se sentou do meu lado no hall de entrada do hotel enquanto o resto da banda se trocava no quarto. Ele me disse sobre os próximos shows no Brasil, nós conversamos rapidamente sobre BH e o Carnaval no litoral do país. Pouco antes eu havia cumprimentado boa parte da banda ali mesmo no hall do hotel. Quando a Catalina chegou eu fiquei um pouco apreensivo. A Carol a cumprimentou e então me apresentou como um "grande fã". Naquele momento Catalina olhou pra mim meio surpresa. Me deu um abraço e então eu a contei como conheci a banda dela. Ela sempre sorrindo e eu abestalhado. Então a Carol pediu pra que batêssemos uma foto e a Catalina sequer exitou. Me abraçou e sorriu pra primeira foto e então pôs a mão na cintura e fez uma careta para uma segunda foto. A Carol me disse: "Jean, ela tá fazendo careta, faz também!". Então eu fiz e essa foi nossa segunda foto. Infelizmente meu cabelo estava molhado em cima devido à chuva e ficou horroroso nas duas fotos, mas dessa vez eu deixo passar. haha.

(Fazendo careta)

Ainda estou estasiado com tudo o que aconteceu, mas essa lembrança vai ser algo que sempre levarei comigo e espero poder reencontrá-los em outros shows. Nessa vida eu não duvido de nada!


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa

Nesse post irei relatar minhas principais impressões, sentimentos e percepções que tive na cidade do Rio de Janeiro em viagem de cinco dias no início do mês de Janeiro de 2013. Fui com três amigos da Geografia (Kaique, Marcela e Renato) e estávamos todos em busca de explorar muito mais a cidade do que simplesmente o litoral, como é de costume dos mineiros.

Pegamos um voo em Confins na tarde de uma quarta-feira (09) com destino ao aeroporto Santos Drummond. Tudo ocorreu super bem. Sem atrasos no voo, sem problemas com o tempo. Quando o comandante disse que iríamos pousar, após cerca de 45 minutos de voo, eu vi a cidade surgindo imponente abaixo de mim. Foi uma visão e tanto! Ver o Cristo, a ponte Rio-Niterói, o mar (mineiro sempre fica abobalhado ao ver o mar, não importa quantas vezes já o viu), foi muito belo. Nunca havia estado em uma cidade maior que minha BH antes, então foi interessante observar o tamanho da mancha urbana da metrópole fluminense.

Ao desembarcar, o primeiro estranhamento. Desde 2006 eu não visitava o litoral, estava super acostumado ao clima de minha cidade, o Tropical de Altitude. Ao me deparar novamente com o Tropical Litorâneo Úmido, senti um certo desconforto mas rapidamente me acostumei: "É tão úmido e quente, mas faz com que a gente se sinta tão bem" (rs). Entretanto, o litoral nos presenteia com uma sensação que nunca sentiremos em Minas: aquela brisa que vem do mar. Na noite do dia em que chegamos uma nos acometeu na praia de Copacabana que vai ficar pra sempre em minha memória.

No meio do ano passado conheci em Belo Horizonte, devido a um encontro nacional de geógrafos que acontecia na UFMG (o ENG), três estudantes de Geografia da UFF-Campos. Os três são do estado do Rio de Janeiro (um do Rio, um de Cordeiro e uma de São Gonçalo), mas todos amam a capital fluminense e despertaram em mim uma enorme vontade de conhecer a Cidade Maravilhosa, a qual eu guardava muito despeito por achar que a mídia e o governo privilegiavam em relação a outras cidades brasileiras (o que não deixa de ter um pouco de verdade). Ah! Esses estudantes são o Bruno, a Elaine e o Vicente. Eles foram super cordiais e simpáticos comigo, assim como são todas as pessoas que conheço no Rio. Infelizmente em sua própria cidade, não recebi muita simpatia dos cariocas. Já que toquei nesse assunto, vou me delongar. Talvez não seja uma questão de grosseria, pode ser apenas o jeito carioca de ser ou eu que dei azar mesmo de ser atendido somente por pessoas pouco cordiais. Mas o fato é que desde o hostel em que fiquei hospedado até os restaurantes que frequentei me senti (e também meus amigos) como se estivesse mendigando atendimento e informações. Quase sempre recebíamos respostas monossilábicas em tom ríspido. Contato visual não existia. Os garçons eram os mais desatentos que já tive notícia. Talvez eu esteja sendo muito exigente, mas estou acostumado às conversas delongadas,às prozas, ao contato visual, ao "com'é que cê tá?"... Aqui em Minas é comum que desconhecidos puxem conversa nas filas de banco ou no ônibus. Mas minha surpresa [surpresa boa] veio dos taxistas. Fui advertido várias vezes por colegas para ficar atento com eles. Peguei meu primeiro táxi super desconfiado. Mas de forma geral, os taxistas foram super simpáticos. Nenhum deles se aproveitou do fato de sermos turistas para fazer rotas mais longas (acompanhei tudo quietinho pelo GPS, sou esperto XD). Outra exceção também foi o restaurante Monchique em Copacabana. Atendimento e preço de qualidade, fiz questão de deixar uma recomendação no Foursquare. (rs).

Outro aspecto que me chamou a atenção no Rio foi a arquitetura. BH tem pouco mais de 110 anos de história em seus prédios. No Rio eu consegui perceber tendências anteriores às presentes em Belo Horizonte. As favelas, inclusive, são bastante diferentes das de BH. Os espigões de granito nos quais elas se localizam, são mais íngremes do que qualquer colina de Minas, isso, é claro, exige dos moradores adaptações a esse ambiente. De forma geral, eu achei as favelas de lá mais agradáveis ao olhar que as daqui por essa característica.

Bem, vamos aos pontos turísticos. Infelizmente eu não pude visitar tudo o que a cidade oferece, claro. Tive que fazer o Plano JK (50 dias em 5). Mas de forma geral eu visitei bastante lugares e amei todos. Uma facilidade foi o fato de eu ter ficado hospedado na Zona Sul (fiquei em Copacabana, próximo ao Posto 5), então o acesso era muito fácil, tanto a pé, quanto de metrô. Ah! táxi no Rio também é uma maravilha. O preço é muito baixo em comparação a Belo Horizonte. Mas também é possível fazer caminhadas sem se cansar já que a cidade é plana, ao contrário de BH que mata a gente já no primeiro quarteirão depois de subir um morro. Rio de Janeiro também está super preparada pra receber turistas. Ficar perdido lá é impossível. Tudo muito bem informado (inclusive em inglês e espanhol), transporte público me serviu muito bem. Ter um litoral já ajuda na percepção espacial (por sorte em BH temos a Serra do Curral, senão não teríamos uma referência natural para nos localizarmos), dividido em postos então... Era só entrar no táxi e dizer: "Posto 5!". O Posto 9 me chamou a atenção pela bandeira LGBT ateada lá. (É o território colorido do Rio).

Pois bem, começamos pelo Forte de Copacabana. Depois de comprarmos a entrada com um soldado super mal humorado entramos no forte. Ele em si não é maravilhoso, mas imaginar todos os acontecimentos históricos ali envolvidos é de tirar o fôlego! A Catedral Metropolitana São Sebastião é tudo isso o que dizem. Liiinda! Por dentro então nem se fale! Os Arcos da Lapa são graciosos, mas é a noite que eles são vibrantes. Bem, não eles em si, mas o que acontece sob eles. A Lapa lembra um pouco a zona boêmia do bairro Santa Tereza com aquela cara de anos 1960 do Lagoinha e Bonfim em Belo Horizonte. Muito samba, muita gente faficheira, enfim, a cara da Geografia. Estava empolgadíssimo pra conhecer a Escadaria Selarón, mas infelizmente o artista Jorge Selarón foi encontrado morto em cima dela exatamente no dia em que iríamos visitá-la. Azar o nosso, não? A Biblioteca Nacional estava com uma fila nada convidativa. Apenas olhamos o hall de entrada e já era possível perceber que era bela. No Museu Histórico Nacional eu fiquei encantado! Todas aquelas obras desenhadas nos meus livros de História ali! Super legal! No último dia visitamos o Jardim Botânico. Ele é enorme! Amei a Vitória-Régia! Nunca tinha visto uma ao vivo. As palmeiras imperiais me lembraram um pouco da Praça da Liberdade.

Falando em praças, não pude deixar de notar a ausência delas. Parece que carioca não é muito ligado a praças. Deve ser coisa de mineiro mesmo. Em BH tudo é nas praças (mas também, com um calçadão de Ipanema e praia, as praças não ficam tão chamativas). Essa presença do litoral mexe muito com o estilo de vida das pessoas. A moda carioca te deixa mais à vontade. É muita bermuda, muito chinelo, muito vestidinho e batinha, muitos acessórios... os cabelos são super cacheados, os blacks são assumidos. Parece que a mulher carioca já superou a chapinha. Eu saía a noite e frequentava restaurantes com certo requinte calçando chinelo. Isso em Belo Horizonte é inimaginável! O mineiro é muito conservador com roupa, isso é fato. Tênis e calça são indispensáveis em quase todos os ambientes.

A música também foi notável. No táxi, no supermercado, o samba está em todos os lugares. Carioca gosta mesmo de samba (e eu também rs). Em Minas o sertanejo é quem owna, sem dúvidas. (Eu troco Paula Fernandes pela Marisa Monte, que tal? rs. Brincadeira!).

No Rio eu fui ao meu primeiro Starbucks já que aqui em BH ainda não tem. Imagina o quanto meus olhos brilharam quando eu vi o cafe! O Renato, por outro lado, ficou deslumbrado com o KFC, que também não tem por aqui ainda. Outros ambientes que gostei foi o bar/restaurante mexicano Rota 66 e o restaurante chinês Chon Kou, este, apesar do péssimo atendimento nas duas vezes em que fui, tem uma vista magnífica pro mar. Ah! Não posso deixar de citar novamente a churrascaria Monchique. Já falei que amei tudo lá? (rs).

Apesar de tudo, a Zona Sul não é tão servida de bares e todos fecham muito cedo. Senti a falta de uma Savassi, de um Sion por lá. A quantidade relativa de bares em Belo Horizonte é muito maior. Não é a toa que nossa cidade é a Capital Mundial dos Botecos. Fomos em um barzinho no Leblon que fechou 01:00 a.m.!

Não dá pra deixar de notar a quantidade de turistas que tem no Rio. Nunca ouvi tanta língua em um lugar só. Ao todo, durante a viagem, contei oito: Português, Inglês, Espanhol (até demais pro meu gosto), Francês, Alemão, Árabe, alguma língua eslava que obviamente eu não consigo identificar (talvez seja Russo) e uma língua oriental que suspeito que seja Coreano. Só conversei com um sul africano que não tava muito pra papo. O lugar em que eu menos ouvi o Português foi no Cristo Redentor e esse eu deixei pro final porque foi uma das melhores partes da viagem.

No dia em que fomos ao Cristo chovia razoavelmente. A visita é muito mais barata do que eu imaginava. Como estudante paguei apenas R$22,00 para subir de bondinho até lá. O bondinho é uma graça. Os gringos estavam adorando (so was I). Sempre falam que a estátua da Liberdade em Nova York é brochante por seu tamanho. No Cristo não tive essa impressão, achei ele formidável. A visão lá de cima é gratificante. Mas nem tudo são rosas. Estava eu lindo e confortável com minha camiseta do Brasil quando uma chuva com um vento fortíssimo nos pegou lá em cima. Os gringos correram para o pé do Cristo e se aglomeraram. Eu estava prestes a fazer o mesmo, mas antes abri meu guarda-chuva pra me proteger. Um vento fortíssimo me atingiu e meu guarda-chuva não resistiu: partiu ao meio me deixando com o cabo na mão enquanto a parte do tecido voava quase atingindo alguns turistas. No momento eu estava pensando em inglês e foi inevitável gritar "Oh My God!!!". Todos caíram em gargalhada. Sou piada em diversos países nesse momento (/chatiado). Enquanto descíamos a escadaria do monumento encontrei uma moeda de R$0,50 no chão. Peguei-a e bradei para meus amigos: "Minha sorte está mudando!". Nesse exato momento um toldo cheio de água caiu sobre minha cabeça. Cristo realmente estava decidido a me trollar. (rs)

A despedida foi no Domingo (13) ainda pela manhã. Nosso voo saiu cedinho, também sem problemas. Quando decolamos fiquei uns últimos minutos admirando a Cidade Maravilhosa pelo céu e pensando: "valeu à pena!". E realmente, "o Rio de Janeiro continua lindo!".

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

My Farewell to Karine

O que me traz aqui hoje depois de tanto tempo é a angústia da despedida.

No início da semana, uma amiga muito querida (Camila) perdeu sua pequena irmãzinha, Karine Dias, de apenas 19 anos. Eu recebi a notícia através de um post no facebook da minha amiga, desolada pelo acontecido. Os dias anteriores já haviam sido muito fúnebres devido à tragédia de Santa Maria que mexeu com o coração de todo o Brasil e tomou conta da mídia internacional. Camila e eu também havíamos ficado bastante comovidos com o acontecimento. Não obstante ao luto nacional decretado pela presidenta Dilma devido à tragédia, minha amiga adere ao luto por sua irmã poucos dias depois.

Eu conheci a Karine há cerca de dois anos. Eu tinha muita vontade de conhecê-la, pois minha amiga sempre falava sobre ela. Além de irmãs, eram muito amigas. O que me fazia muito lembrar de minha boa relação com minha própria irmã. Me lembro muito bem do dia em que nos conhecemos. Estava com meu amigo Diego, no Shopping Cidade, em Belo Horizonte, quando Camila chegou com sua irmã. De cara nos gostamos. Lembro que ela tinha um cabelo cacheadinho, muito lindo. Diego e eu chovemos elogios sobre ela. Não era apenas a beleza física que fez com que fôssemos cativados. Ela também esbanjava simpatia e se mostrou uma pessoa doce e alegre. (A foto ao lado foi tirada naquela noite).

Um segundo momento que me marcou com Karine foi em uma apresentação de teatro no qual ela atuava. Fui convidado e aceitei o convite de bom grado. Inclusive me senti lisonjeado. A peça era de cunho cristão. Camila, Diego e eu não nos damos muito bem com o meio cristão, mas por Karine, deixamos as ideologias de lado naquela noite. Aliás, é notável que Karine era uma menina cristã. Não dessas intolerantes que vemos por aí, mas aquele tipo de cristão que faz com que tenhamos um pouco de tento na língua antes de criticar.


Karine estava no sertão nordestino, em um trabalho missionário com sua igreja. Eu lembro das diversas postagens nas quais ela, empolgada, falava de como iam seus trabalhos. No regresso a Belo Horizonte, ainda no estado da Bahia, nossa querida foi pega por uma tromba d'água no rio em que nadava.e faleceu.

Conceber a morte é algo muito difícil para mim. Como pode hoje eu ser e amanhã já não ser? Durante todo o dia a música "The Phantom Agony" da banda Épica me passava pela cabeça, cuja letra diz: "What's the point of life and what's the meaning if we all die in the end? Does it make sense to learn or do we forget everything?". Agora que Karine se foi, sinto como se parte desses acontecimentos tivessem ido consigo. É um vazio inexplicável que dói. Perdemos uma pessoa doce, com talento na arte e na escrita. Uma perda irreparável. Intrigante é que no início do mês, Karine postou um texto em seu blog. Cheio de metáforas e carregado com suas crenças espirituais, o texto me fez sentir como se ela narrasse o momento da tragédia. Apesar de minha descrença, é um conforto imaginar que ela tenha passado por tudo da forma como narrou.

A última vez que a vi foi há alguns meses atrás quando nos encontramos por acaso. Me cumprimentou com um sorriso radiante e essa será a última memória que tentarei guardar comigo.



Essas palavras que escrevo não têm um objetivo em específico. Só preciso de um meio para falar sobre minha angústia sem fazer alarde, já que nesse blog não há muitas visitas. Sem trazer a tragédia à memória de minha amiga já que há pessoas o suficiente fazendo isso no Facebook e no Twitter. Karine, obrigado por ter sido tão inspiradora durante seu curto período entre nós. Camila, por mais que tenhamos nos distanciado agora que você mora em São Paulo, estarei sempre aqui por você. Minhas recordações com você são infinitas. Seja pela minha camisa de frio que você roubou, pelo machucado que me fez enquanto dançávamos "Good Girl Go Bad" de Cobra Starship na casa da Amanda, seja por Ragatanga ou pelo Diário de uma passiva. Não sofra sozinha!