sábado, 20 de outubro de 2012

Quando não sou antiquado

Por vezes não sou antiquado. Mas nesses momentos também não esbanjo simpatia. Não ligo em assumir, dizer e levantar minha bandeira.
Sou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo assim como defendo o direito do reconhecimento da união afetiva de mais de duas pessoas: sou a favor do amor.
Sou a favor da legalização do aborto e acho que as mulheres têm total autonomia sobre seus corpos: sou a favor da igualdade de gêneros.
Sou a favor da legalização de drogas ilícitas: sou a favor da prioridade de investimento na educação ao invés da segurança.
Sou a favor de cotas em universidades pra negros e índios: sou a favor da eliminação da diferença entre pessoas de cores diferentes.
Sou a favor de programas de transferencia de renda como o Bolsa Família: sou a favor da eliminação da miseria no país.
Sou a favor do direito de se ouvir funk, usar roupa da ciclone e andar com dignidade na favela onde se nasce. Sou a favor da expressão da periferia.
Sou a favor da eutanasia, da pesquisa com células-tronco, do enfraquecimento das religiões. Sou vegetariano, sou feminista, sou agnóstico, sou contra o sistema de produção capitalista. Sou a favor dos povos, de todos. Sou a favor dos animais e do ambiente.
Me chamam de polêmico. Muitas vezes nao sou bem visto e por vezes não sou bem quisto. Mas afinal é assim tão terrível  lutar pelo mundo que se quer?

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Racismo, classismo e misoginia na luta contra o Funk


            Fico impressionado com as declarações de ódio ao Funk e a seus apreciadores que leio internet afora. É corriqueiro no meu mural do Facebook críticas muito severas, carregadas de racismo, classismo e misoginia. Não sou especialista para falar sobre as origens do ritmo e sua evolução (nem é meu foco). Mas sabemos que ao chegar ao Brasil, o funk se popularizou entre as camadas populares das periferias das grandes cidades brasileiras. O funk, que aqui tomou ares brasileiros, das favelas do Rio de Janeiro, se consagrou como o pancadão carioca.
            Os insultos ao ritmo ou aos que o curtem são de diversas procedências. O que mais leio é sobre a “terrível” promiscuidade das letras. Pois bem, é fato que o pancadão carioca, na maioria dos casos, tanto nas letras, quanto na melodia e dança é banhado de sensualidade. Isso aos olhos da classe média brasileira, guardiã da moral e dos bons costumes, é uma mazela do povo brasileiro, da qual morrem de medo que seja revelada mundo afora. Só acho gozado que muitos desses críticos são aqueles que louvam a sociedade holandesa e a toma por vanguarda por permitir alguns tipos de atos sexuais em locais públicos e a expor prostitutas em vitrines em plena Amsterdam. São os mesmos que se embebedam da sensualidade e promiscuidade do Pop estadunidense nas pistas de dança. Muitos deles são pessoas que lutam pela liberdade sexual. Não estou me posicionando contra a decisão do governo holandês, o Pop ou a luta pela quebra dos tabus que giram em torno da sexualidade, pelo contrário. Eu só não entendo o motivo de quem detém o capital (ou melhor, detém ideologias e um certo status quo, já que o capital é da burguesia e não da classe média) poder expressar sua liberdade corporal enquanto a preta da favela não tem direito de ir ao seu baile sem calcinha sem ser crucificada!
            Outra polêmica é a associação do ouvinte do pancadão carioca ao usuário de drogas. Acho que nem preciso dizer o que a gente vê (ou melhor, sente o cheiro) pelos corredores de qualquer universidade desse país. Que estudante nunca presenciou o uso de drogas ilícitas em uma das diversas festas universitárias que pipocam por aí? Mas o favelado, não! Esse não pode fumar sua maconha em paz, “esses maconheiros têm que ir pra cadeia”! Ah! Mas lá na Holanda...
            Amigos, será possível que vocês não enxergam que suas críticas estão muito mais fundadas no racismo, no machismo e na diferença de classes sociais do que no simples ritmo musical? E se essa mesma corrente do funk, ao invés de ser popular nas periferias o fosse entre a elite europeia, suas críticas ainda existiriam? Ou seria “o ritmo da liberdade de se cantar sobre os desejos sexuais”? (Eu sei que não se fala só sobre isso nas músicas mas me atenho a essa característica por ser o principal alvo das críticas).
            Eu sei que os funkeiros de ônibus e as festas do vizinho regadas a pancadão em plena terça-feira às 23 horas são insuportáveis, mas isso não é algo condicionado pelo funk. Já vi passageiros de ônibus em Belo Horizonte ouvindo outros ritmos sem o uso dos fones de ouvido. E as repúblicas do interior? Quem nunca ouviu casos de vizinhos incomodados com as festas de moradores de repúblicas em Ouro Preto, São João del Rei, Itabira... Eu mesmo tenho um amigo que se sente injustiçado pois, segundo ele, "os vizinhos têm que entender que é um momento que faz parte da vida de um estudante universitário". Detalhe: ele também é um "Fora Funk!" (acabei de inventar essa expressão rs).
            Pior ainda é ouvir que "funk não é cultura". Pra essas eu apenas indico o dicionário mais próximo.
            Enfim, aos funkeiros, fica meu apreço às expressões culturais e a tudo que faz bem para si sem inibir o espaço do outro. Se é o que te faz feliz e não oprime o direito de outras pessoas, não vejo problema algum em descer até o chão ao som do pancadão.


(Este texto foi adaptado e melhorado por sugestões e críticas, obrigado a todos pelos toques).

terça-feira, 31 de julho de 2012

Gosto de ti


Gosto de ti. Palavras, afinal, são como iscas para mim.
Gosto do jeito como falas, gosto de tuas frases
Toca-me como ages, ainda que disto não te comprazes.
Gosto de ti, para o apreço não se premedita o sujeito.

Ó quem dera eu, dizer-te tudo o que penso
Do quanto, ao ver tuas fotos, me sinto tenso
Falar-te dos momentos que contigo sonho
Mas minha timidez é meu confronto.

Estranhos são os sentimentos
Entram pela porta sem pedir nosso consentimento.
Não é amor o que sinto, claro, mas uma estranha admiração
Por quem de mim não deve ter tanta afeição.

Como dizer de sentimentos ao que não se vê?
Apenas um encontro é o suficiente pra se conhecer?
Ora, se virtualmente somos aquilo que realmente somos
Não me julgues por ver fascínio em teus Ramos.

- - 

Paixão platônica de 2012. Que bom que você já saiu dessa, Jean.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Respostas do além


No que tange à vida em tudo me aflijo. Medos, incertezas, sonhos, desejos. Quero tudo que não vejo. Pensei que fossem devaneios de um teenager, mas mesmo aos vinte tais incertezas ainda vêm a rijo.
Ai de mim, que não passo de um pobre sonhador em busca de paixões distantes daqui!
Se eu pudesse ao longe voaria e tudo o que me atormenta então, se acabaria. Mas de que me adianta correr, se nem a mim consigo conter? E é então que percebo, que todo esse meu desespero, é causado por mim mesmo. Toda a dor que sinto, não passa de neura sem motivo.
Não tenho bens, não tenho amores, mas de que importa? Por um acaso a vida já me fechou todas as portas?
Sei que não nasci pra ser só mais um, há muito potencial em mim. Anima-te, pois o que espera por ti são vitórias sem fim. Não posso ver, mas sinto que há de acontecer.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Descobrimento do Saber


Quão profundas são as reflexões dos seres pensantes. Elas extrapolam os saberes da simples existência. Vão além do lócus e se projetam no infinito. Partem do palpável para buscar o inexplicável.
Ó, Minh ‘alma por que anseias pelo que não se sabe? Por que vais de encontro a um largo sem terra firme?
Acalma-te, contenta-te com o que sabes e atraca-te ao cais! D’outra forma te perderás neste azul sublime.
“Não, não retrocederei, e veja! Ao horizonte vejo terra seca”.

domingo, 3 de junho de 2012

"Só sei que nada sei"

     Achais que chegastes ao apogeu de vossa sabedoria? Ora, não é o homem o ser que vive em constante progressão ideológica? Não penseis vós que todo o conhecimento acumulado na academia ou que vossos inúmeros títulos e galardões fazem de vós senhores e senhoras da verdade. Penso que quanto mais conheço, menos sei e maior deve ser minha devoção à relatividade.
     O saber é conhecido como arma de dominação, entretanto não é sempre que o gatilho deve ser puxado.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Por um fio


Deparei-me hoje com uma das cenas mais chocantes e até certo ponto bizarras de minha vida.
Moro a poucas quadras da estação de ônibus e metrô Vilarinho, aqui em Belo Horizonte e utilizo este como meio para chegar à universidade onde estudo. Com uma rápida caminhada chego sempre à estação por volta das 18h e ainda tenho o privilégio de subir uma passarela tranquila e vazia, longe das multidões que desembarcam dos ônibus nos horários de pico. Por obra do destino, resolvi excepcionalmente hoje chegar à estação usando um destes ônibus.
Acontece que, não obstante o enorme contingente que circula por esta estação (ou quem sabe exatamente por isto), está em fase final a construção de um enorme shopping center por cima de suas instalações, o que acarretou hoje, no fechamento de uma das passarelas de acesso à plataforma de embarque.
Ao descer do ônibus e seguir em direção às escadas da passarela percebo que um aglomerado de pessoas estava se formando. Confesso que me senti chateado por perceber que chegaria atrasado à palestra de um seminário do meu curso, entretanto não fazia ideia de que o pior ainda estava por vir.
Caminhei até metade da escada, onde começava o congestionamento. Havia duas fileiras caminhando no mesmo sentido que o meu ao passo que uma terceira fileira vinha à minha esquerda formada pelas pessoas que desembarcaram do metrô e seguiam no sentido contrário. Uma caminhada vagarosa indo de encontro ao meu destino, entretanto eficaz.
Depois de cerca de 5min de caminhada assisto à chegada de um dos metrôs trazendo consigo centenas de passageiros. Foi aí então, que o caos se estabeleceu. Toda esta multidão sedenta em chegar aos ônibus que as levam para seus bairros ignorou a superlotação da passarela e decidiu, por senso comum, tomar todas as faixas de circulação para si. A princípio, pensar apenas em si mesmo parece ser a forma mais rápida de se chegar ao seu ideal, entretanto, os fatos mostraram que o desdém do coletivo pode custar caro.
Os recém-chegados do metrô interceptaram a saída dos que iam de encontro ao embarque e foi neste momento, em que eu estava no ponto mais alto da passarela, que todas as filas praticamente se desfizeram e estacionaram.
“Mantenha-se calmo, Jean, em breve você chegará em segurança à plataforma de embarque” era o que dizia a mim mesmo o tempo inteiro. Doce ilusão. Fiquei cerca de 30min parado no mesmo lugar sem como prosseguir ou voltar; meu agasalho de tarde relativamente fria de inverno se tornou um dos meus piores inimigos e pouco a pouco fui sendo prensado à grade que batia no meu peito e que me separava de um abismo até o chão da estação de ônibus. Por instantes pensei que aquele fosse o meu fim; se não saísse dali acabaria morrendo ao ser jogado da grade da passarela ou asfixiado por ela. Quem sabe até mesmo com uma possível ruina da passarela de concreto que não parava de vibrar com o peso estacionado sobre si.
Em meio àquele pandemônio ouvia pessoas gritando. Entre elas me chamaram atenção uma mulher que chorava audivelmente por sofrer de claustrofobia, uma idosa que chorava ao ser sufocada, mas por sorte protegida ao máximo pelo homem que a acompanhava e as crianças que aos prantos, eram erguidas por seus responsáveis numa tentativa de salvá-las do sufocamento.
De raiva e aflição várias pessoas começaram a quebrar partes das grades que bloqueavam o acesso a uma escada interditada pela obra e após o êxito da ação saltaram como se fossem exímios praticantes de le parkour; uma barbárie.
Aos poucos, graças aos deuses, consegui sair daquela tormenta completamente estarrecido pela situação e impedido de chegar ao meu destino devido a uma medida de segurança da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de paralisar os trens para não haver mais embarque ou desembarque. Foi aí que voltei para a minha casa, pela calma e vazia passarela que de praxe caminho, pela qual deveria ter vindo.
O que mais me impressionou disso tudo foi o despreparo do brasileiro em lidar com uma situação como essas. Se todos consentissem em seguir em suas devidas fileiras, mesmo que lentamente, todos chegariam ao seu destino. Oxalá nossa nação não se depare com catástrofes que demandem um trabalho em equipe para o bem comum, pois na atual situação de educação para a evacuação do brasileiro, todos pereceriam.
Ironicamente, depreciando nossa agonia, um grupo de operários da construção do shopping assistiam, filmavam e cochichavam entre si aos gracejos, aumentando ainda mais meu desapreço pela cultura desenvolvida pela sociedade em que vivemos.

domingo, 6 de maio de 2012

Incertezas

(Fonte imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjSHvS3P2LRIs8qBTvR2i3yXNQ-5ZRTb5ueULckfXc00z93FJ9raRexUfejU3a14Ps2dV0k6_5LmzpcSdlNC3eJ5p-pqocD_QUqBN4g7wSQeIWrlGE7S0TjkvndJUM-N6D45Oa7Xvp0gk/s320/incerteza.jpg, Acesso em 06/05/2012)

   O que nos espera além do presente? é possível ponderar o acontecido para prever o porvir?
   A incerteza é o maior tormento que pode acometer nossa alma. Ela é mãe das religiões, das explicações para o pós-morte; ela criou as esperanças, as hipóteses; ao passo que todas estas se travestem de verdades absolutas para os que nelas creem.
   A Bíblia diz que a fé é o firme fundamento daquilo que não se vê, mas se espera (Hb. 11,1). Bom seria se todas as minhas crenças fossem realidades absolutas, pois aí então não me angustiaria com minhas reflexões e questionamentos sem fim.